Diabetes e Saúde Mental: comunicação e abordagem multidisciplinar no centro do sucesso

Dr.ª Graça Santos
25/05/23
Diabetes e Saúde Mental: comunicação e abordagem multidisciplinar no centro do sucesso

A relação entre a diabetes e as perturbações psiquiátricas é uma realidade frequente nesta população. Psiquiatra e coordenadora Unidade de Psiquiatria de Ligação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Dr.ª Graça Santos, explora esta relação, salientando algumas ferramentas essenciais para a melhor gestão e tratamento destas doenças. Leia o artigo de opinião.

A diabetes é uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a crescer. O seu tratamento é complexo e obriga a automonitorização e, muitas vezes, administração diária de insulina, bem como adoção de um estilo de vida saudável. Esta abordagem terapêutica é geradora de stress, a que se soma o estigma social de viver com uma doença crónica.

As perturbações psiquiátricas são mais frequentes nesta população por comparação à população geral. Estas podem constituir-se como reação ao peso adicional que o tratamento da doença representa (o chamado distress da diabetes) ou como reação de adaptação às complicações/comorbilidades da doença. Podem ter expressão e gravidade variáveis, desde sintomas de ansiedade e humor depressivo situacionais e de gravidade ligeira a quadros mais severos que, por sua vez, interferem na adesão ao tratamento.

Em determinadas fases do ciclo de vida, pelas especificidades da etapa desenvolvimental, como por exemplo na adolescência, viver com uma doença crónica desperta emoções negativas, em maior número e intensidade, que comprometem a adesão ao tratamento, podem associar-se a alterações do comportamento alimentar e disfuncionalidade nas relações familiares, interação com pares ou insucesso académico. Parar com consumo de álcool, fazer exercício físico, ter alimentação adequada e evitar excesso de peso, são outros desafios que não são fáceis de concretizar pela pessoa adulta com diabetes.

A relação dos profissionais de saúde com a pessoa com diabetes e sua família é fundamental no sucesso do tratamento. Uma comunicação eficaz, estratégias motivadoras, informação sobre a doença e seu tratamento, suporte de grupos de autoajuda, associações de doentes, apoio sociofamiliar, acesso a tecnologia e dispositivos médicos que aumentem eficácia e conforto, são alguns vértices da intervenção que exige o esforço conjunto de equipa multidisciplinar empenhada.

A referenciação para intervenções psiquiátricas e/ou psicológicas está indicada no caso de comorbilidade psiquiátrica ou de dificuldades identificadas na adesão ao tratamento, na interação familiar, consumo de substâncias ou ideação suicida. Idealmente o psiquiatra e/ou psicólogo integra a equipa ou, no mínimo, deve manter uma ligação estreita com os outros elementos da equipa facilitadora de acesso e troca de informação entre todos os envolvidos. 

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